O transtorno de escoriação, também conhecido como escoriações neuróticas, é um distúrbio relativamente comum entre idosos.
No entanto, esse problema ainda é pouco reconhecido e discutido, mesmo sendo uma condição que pode afetar significativamente a qualidade de vida.
O Que São Escoriações Neuróticas?
O transtorno de escoriação é classificado como um transtorno onde o indivíduo, consciente ou inconscientemente, se sente compelido a cutucar, arranhar ou apertar a pele. Esse hábito leva ao surgimento de lesões, que podem variar de pequenos arranhões até úlceras dolorosas e graves.
Nos idosos, o quadro é agravado pela fragilidade da pele, que naturalmente se torna mais fina, ressecada e vulnerável com o passar dos anos.
Em muitos casos, o idoso pode não perceber o quanto esse comportamento está prejudicando sua pele, o que gera preocupação entre os familiares e cuidadores.
O transtorno de escoriação neurótica, se não tratado, pode levar a complicações como úlceras de difícil cicatrização, infecções e cicatrizes permanentes.
Causas e Fatores Contribuintes
As escoriações neuróticas podem estar associadas a várias condições subjacentes, como ansiedade, estresse ou até mesmo demência.
Muitas vezes, o idoso não tem plena consciência de que está causando lesões em sua própria pele.
Esse comportamento pode ser desencadeado por fatores emocionais, psicológicos ou até físicos, como prurido intenso (coceira), que leva o idoso a arranhar repetidamente a área afetada.
Nos casos mais graves, a escoriação neurótica pode estar relacionada a doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Isso significa que, além dos tratamentos dermatológicos, é fundamental o acompanhamento por um geriatra, que pode prescrever medicações para ajudar no controle da compulsão.
A Importância da Intervenção Multidisciplinar
Quando tratamos da saúde da pele em idosos, especialmente no caso das escoriações neuróticas, a abordagem multidisciplinar é essencial.
Dermatologistas e geriatras precisam trabalhar em conjunto para oferecer o melhor cuidado possível.
O dermatologista avalia e trata as lesões, enquanto o geriatra acompanha a saúde geral do idoso, prescrevendo medicamentos para controlar a compulsão.
Recentemente, atendi uma senhora que apresentava uma queixa de queda de cabelo.
Durante a avaliação clínica e dermatoscópica, observei que, na verdade, se tratava de um caso de tricotilomania, uma condição semelhante à escoriação neurótica, onde a paciente arrancava os próprios cabelos sem perceber.
Ela não estava sob acompanhamento geriátrico, então a encaminhei a um geriatra para que pudéssemos trabalhar juntos no tratamento.
Essa integração entre dermatologia e geriatria é crucial para abordar as escoriações neuróticas de forma eficaz.
Estratégias para Reduzir as Escoriações Neuróticas
Embora o tratamento medicamentoso seja importante, algumas medidas simples podem ser implementadas para ajudar a reduzir o hábito compulsivo de escoriar a pele.
A seguir, algumas sugestões que podem ser aplicadas no dia a dia, tanto pelos próprios idosos quanto por seus cuidadores:
- Manter as mãos ocupadas: Uma forma de desviar a atenção da compulsão é manter as mãos do idoso ocupadas com atividades manuais, como crochê, tricô, jogos de cartas ou outras atividades recreativas.
- Usar roupas protetoras: Vestir o idoso com roupas que cubram as áreas mais suscetíveis à escoriação, como mangas longas e calças compridas, pode ajudar a prevenir que ele continue a cutucar ou arranhar a pele.
- Uso de luvas: Em casos mais graves, o uso de luvas pode ser indicado, especialmente à noite, quando o idoso pode escoriar a pele inconscientemente durante o sono.
- Manter as unhas curtas: Aparar as unhas regularmente evita que o idoso cause lesões mais profundas na pele ao arranhar.
- Hidratação constante da pele: Manter a pele bem hidratada é uma medida essencial, não só para acelerar a cicatrização das lesões, mas também para prevenir o surgimento de novas. A pele seca tende a coçar mais, o que pode desencadear o comportamento compulsivo.
Além disso, os cuidadores precisam estar atentos às mudanças no comportamento e nas condições de saúde da pele do idoso.
Qualquer novo sinal de lesão deve ser comunicado ao médico, para que o tratamento possa ser ajustado conforme necessário.
Conclusão
As escoriações neuróticas, apesar de serem uma condição relativamente comum entre os idosos, ainda são pouco conhecidas e, muitas vezes, subdiagnosticadas.
Elas podem trazer grandes desafios, tanto para os pacientes quanto para seus familiares e cuidadores, causando lesões graves na pele e afetando a qualidade de vida.
A chave para o tratamento eficaz é a abordagem multidisciplinar, envolvendo dermatologistas, geriatras e, em alguns casos, psicólogos.
Além disso, a adoção de medidas simples, como manter a pele hidratada, usar roupas protetoras e manter as mãos ocupadas, pode fazer uma grande diferença no controle do transtorno.
Se você suspeita que um idoso em sua vida possa estar sofrendo de escoriações neuróticas, não hesite em procurar ajuda médica.
Com o acompanhamento correto, é possível minimizar os danos à pele e oferecer uma qualidade de vida melhor ao paciente.